sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Declínio vs Transmutação


Após uma interregno nestes meus pensamentos devido a um "afastamento" da realidade académica, eis-me de novo confrontado com este micro-universo, numa vertente que desconheço bastante pela sua particularidade - as tunas.
Muito embora se trate dum micro-cosmos, num micro-universo, não deixa de ter por base a tradição académica e a sua Praxe.
Vejo-me envolvido a acompanhar o ressurgimento duma tuna, numa Instituição de Ensino Superior da Invicta. Que poderá ser humilde em dimensão, mas é de todo enorme em generosidade e vontade em ser Académica no melhor sentido.
Eis que as minhas reflexões passadas, passam de meras divagações teóricas e assumem contornos de realidade vivida. De facto, presenciei e continuo a presenciar esta gestação difícil, mas gratificante e vejo surgir do caos a ordem. Foi preciso um "Big Bang", tal como no Universo, para que houvesse ordem e que, duma amálgama de seres algo confusos, surgisse um grupo que dá os primeiros passos na coesão, para progredirem para o objectivo a que se propuseram.
O que num passado recente seria obvio, deixou de o ser pela (des)evolução de mentalidades e valores. O aceitar duma hierarquia naturalmente, sem ser imposta, pela experiência e não porque tem de ser, o Respeito pelos mais "Velhos" (leia-se mais experientes), é hoje em dia uma utopia cultivada não por inteligência e elitismo cultural, mas sim por um repetir de situações esvaziadas de conteúdo pela simples razão "de ter de ser"...
Assim estamos a assistir a um declínio ao melhor estilo do império romano, onde temos um suceder cada maior de "líderes" efémeros e cuja formação deixa a desejar. E o que é que isto tem a ver com a tuna? TUDO...
Sendo a tuna um sub-conjunto, da alma mater praxística, esta herda as suas características circunstanciais e amplifica-as pela maior intensidade das vivências em menor tempo. Esta relação sentimento/tempo, provoca um agudizar dos sentimentos latentes provocados pela pobre formação de base praxística e põe em causa a todo o momento a própria existência do grupo. "Uma cadeia tem a força do seu elo mais fraco", durante muito tempo esta afirmação deixou-me algo confuso, mas a dura realidade impõe-se mais uma vez e infelizmente verifiquei que era mais um "axioma". Estas vivências que pude presenciar confortavelmente sem qualquer envolvimento próximo, puderam confirmar o que tenho pensado e tenho exposto aqui. Após a expansão dramaticamente bombástica do anos 90, impõe-se uma implosão controlada da estrutura académica para níveis maçónicos e confortavelmente oculto à vista dos menos preparados em termos de valores, tanto para a grande maioria dos estudantes do ensino superior como para "futricas" (todos aqueles que nunca estiveram inscritos numa instituição de ensino superior em Portugal)...
O sistema está atingindo por um vírus com proporções pandémicas ao qual não existe vacina, e cuja evolução gangrena a própria Praxe - Soluções? Amputação dos membros afectados.
Este gangrenar do corpo praxístico tem como sintomas a ausência de atitude, a passividade cíclica, a falta de imaginação intrínseca e a ociosidade crónica. Tudo isto associado à mentalidade "Mc Donald's" e temos um empobrecimento cultural grave que levará ao fim de vertentes tais como as tunas e coros, que se auto-mutilam e condenam à morte logo que renunciam aos princípios da Praxe.
O momento de introspecção e de análise profunda do passado recente, para perceber de forma inteligente e pro-activa os motivos desta crise e engendrar soluções que sejam mais do que pensos rápidos.
"Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar" F. Nietzsche