terça-feira, 29 de julho de 2008

Valores? O que é isso?


Outra questão... Os valores. Pois bem, para todos os iluminados pelo conhecimento teórico-literário e os menos familiarizados quer pela inexperiência, quer pela pouca "idade" nestas andanças recomendo alguns filmes, a saber "We were soldiers", "O último samurai", "Kingdom of heaven", "A ponte sobre o Rio Kway", "Hart's war", entre outros que sobre os quais irei falar mais tarde.
Nestes filmes alguns baseados em factos reais (quase todos...) podemos ver e sentir um pouco do que são os pilares fundamentais onde assenta a Tradição Académica e a Praxe. Temos exemplos de liderança, reconhecimento, camaradagem, amizade, respeito, espírito de solidariedade e sacrifício, honra, humildade, enfim como ser Homem. Se alguma pessoa menos familiarizada com a Tradição Académica (quer anti-praxes, quer professores, quer outras pessoas que não tenham conhecido de facto a Tradição Académica) tiverem a sorte (ou azar, depende do ponto de vista) de passar por aqui, vejam estes filmes, esqueçam a carga bélica e foquem-se sobre os valores e sentimentos aí representados... Ao fim pensem nisso durante pelo menos 24 horas, depois disso tornem a ver os filmes e talvez poderão entender alguma coisa do que recriminam sem saber.
É evidente que existem comportamentos desviantes, será que se deverá perseguir e recriminar uma comunidade por ter uma opinião diversa? Será que é legítimo, catalogar todos os membros duma comunidade pelos erros de alguns, pouco representativos? Isso faz-me lembrar um pouco a política dos regimes totalitários do início/meio do século passado...
Retomando as questões de carácter prático. Outra situação que não entendo e me mete muita confusão: A Cerimónia de Imposição de Insígnias. Tal como o nome indica é uma cerimónia (do Lat. caerimonias. f., forma exterior e regular do culto religioso; solenidade religiosa; pompa e formalidades para maior brilho de solenidades oficiais; conjunto de formalidades de civilidade, de preceitos de cortesia entre particulares ou entidades; fam., embaraço, acanhamento; (no pl. ) formalidades rituais. http://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx) cujo carácter é de índole puramente praxística, ou seja, de praxista para praxista e por praxistas, a qual é aberta a elementos "estranhos": Pais, Amigos e Professores mesmo que estes não se revejam com a Tradição. E como tal rege-se por regras dos Praxistas.

sábado, 26 de julho de 2008

Ter capa ou não ter? Eis a questão...


Agora pretendo falar um pouco do uso da capa.
Este componente importante do trajo académico tem um conjunto de regras quanto ao seu uso em diversas situações. Em Praxe, ou seja, quando exercemos Praxe, deverá ser colocada caída sobre os ombros com dobras na parte superior e aqui começa a polémica. Tradicionalmente o número de dobras é o correspondente ao número de inscrições, mas no fim do século passado dado o aumento do número de pessoas com um número de inscrições com 2 dígitos, introduziu-se a regra seguinte: O número de dobras na parte superior da capa deverá ser o do ano do curso em que se encontar inscrito. Assim acabaram-se com as "carpetes" aos ombros...
Outra situação e esta é a mais degradante e triste no "desuso" do trajo, é a sua utilização numa missa. De facto, a proliferação dos "naftas" (sujeitos que frequentam o ensino superior, que não seguem as obrigações da Tradição Académica mas no entanto reclamam veemente os direitos proporcionados por Ela) faz com tenhamos assistido ao longo dos anos de uma degradação lenta, sistemática e inexorável da postura dos "Finalistas" aquando da sua Missa de Bênção das Pastas. Com efeito temos visto a tremenda falta de respeito numa cerimónia de caracter religioso e altíssimo teor sério que começa com um mau uso do trajo. Numa Missa, a capa deverá ser colocada sobre os ombros, sem dobras e a batina deverá encontrar-se devidamente abotoada. Esta só é totalmente fechada em situação de luto (pessoal ou académico), e não à toa...
Quando se está a exercer Praxe (Praxar alguém mais novo...), a capa deve ser colocada sobre os ombros, com as respectivas dobras. A capa é traçada em três situações: ao ouvir fado, sancionar alguém e se tivermos frio. Nestas situações, nunca se poderá ver o branco do colarinho da camisa, o branco dos punhos não se pode ver quando estámos em trupe! Mais umas das "confusões" dos que "muito sabem" sem nunca ter praticado!

quarta-feira, 23 de julho de 2008


Após esta introdução tenho de falar um pouco de mim, pois o que me legitima a fazer este compilar de ideias e vivência é o facto de me ter dedicado a esta causa durante mais de 16 anos, sim 16... Dos quais durante 9 fui o representante máximo da Mui Nobre Casa onde entrei, ENGENHARIA. Fui DUX-FACULTIS de ENGENHARIA durante 9 anos e tive de comandar o destino da tradição nesta Casa. Tive de tomar decisões, o que não está ao alcance de todos, infelizmente, dado que implica assumir a responsabilidade dos seus actos algo que hoje em dia e neste país está em desuso rápido. Fui nomeado (e não eleito, explicarei isso mais tarde) na minha 7ª matrícula, fazendo de mim um dos DUXES nomeados mais cedo e estive durante este tempo sendo um dos que estiveram mais tempo no cargo. Deixei de estudar activamente cedo pois tive de trabalhar para me "sustentar", e não, não sou um cábula como dizem, mas isso não interessa, quem anda na FEUP sabe o que lá pode acontecer nesta "democracia" onde a "igualdade" é tão importante. Poderão achar o meu discurso amargo, mas não é, é apenas desiludido por não ter tido direito à diferença.
A minha saída deveu-se a um conjunto de factores relacionados com uma decisão que a maioria achou errada, pois isto não foi feito para maiorias, a Tradição Académica é elitista, não tivesse ela herdado e sido criada numa elite (elite intelectual). E não é democrática, pois a democracia nada tem a ver com mérito, pois a Praxe no estado puro defende o mérito, ao contrário do que dizem os detractores, podemos ver que existem uma diferenciação positiva entre os que conseguem seguir o curso e tenham obtido sucesso académico e o que não o fizeram. A questão dos VETERANOS deve-se apenas a uma "coisa" que existe em qualquer comunidade, seja ela humana ou não, há uma natural prevalência dos que têm mais experiência e que estejam mais tempo, pois estes são os únicos a defender e transmitir devidamente as experiências da mesma comunidade e evitar a repetição de erros - chama-se TRADIÇÃO. Estes factores fazem com que a Tradição Académica (Praxe) tenha sobrevivido ao longo dos tempos sendo sempre vista como um contra-poder dado a sua estruturação e eficiência em se renovar. É verdade, durante o estado novo era um "antro comunista" e a partir do dia 25 de abril de 1974, apenas com a mudança de calendário passou a ser um "antro reaccionário". Tudo muda para se manter na mesma e a verdade é que tudo mudou para se manter na mesma, quer na Praxe, quer no que está à sua volta, apenas cresceu um aproveitamento comercial dado a sua dimensão.
Mas voltando à exposição de idéias, a Praxe tem uma vertente pequena mas muito visível e polémica chamada "Recepção ao caloiro" (caçoada ao caloiro, gozo ao caloiro, etc...), esta vertente polémica deve-se ao constante desvirtuar e exposição destas prácticas - PRAXE (PRAXIS (leia-se prácsis), do grego πράξις, é o processo pelo qual uma teoria, lição ou habilidade é executada ou praticada, se convertendo em parte da experiência vivida. Na Sociologia pode ser resumida como as atividades materiais e intelectuais exercidas pelo homem que contribuem à transformação da realidade social. in wikipédia http://pt.wikipedia.org/wiki/Pr%C3%A1xis ). Como qualquer prática restrita a um determinado grupo estas devem ser feita e executadas dentro deste grupo, pois fora delas deixam de fazer sentido, e é o que acontece quando se faz Praxe "fora de portas" e se mostra à restantes pessoas um conjunto de praticas que nunca experimentaram (de ter experiência) ou vivido e passam de algo com um sentido a humilhação, é evidente que não incluo neste conjunto de práticas todos os exageros que são um comportamento desviante e que devem ser tratados como tal, ao nível médico, civil e criminal.
Assim sendo A PRAXE só faz sentido de estudante para estudante, ou seja só faz sentido de que a viveu para quem a quer viver, e aqui podemos aflorar outra questão polémica. Os anti-praxe, pessoas que recusaram a Praxe, que defendem a diferença e a igualdade direitos mas à sua maneira. Estes senhores que descriminam sem olhar a meios deveriam estudar a lição e reler (ou ler pela primeira vez na esmagadora maioria dos casos, estes sim defensores da igualdade dos homens como Rousseau, Engels, Marx, por exemplo...) talvez poderiam tornar-se de facto mais humanos e deixar de lado os pequenos livrinhos vermelhos traduzidos do cantonês... Haverá algo de mais igual que abolir a diferença proporcionada pelo berço com uma vestimenta igual, desprovida de qualquer diferença além da do mérito RESPECTIVA INSÍGNIA, sim estou a falar do trajo académico?

Um BLOG sobre tradição académica PORQUÊ?

Após uma intensa e profunda reflexão, tendo em conta o evoluir do "status quo" da Tradição Académica em Portugal e em particular no Porto (a que eu conheço e na qual participei e vou participando), decidi criar este espaço.
Não tendo a prepotência de me assumir como um detentor da verdade absoluta nesta matéria, apenas quero deixar o meu contributo, desta forma sobre a minha experiência e a minha visão muito particular desta "estranha forma de viver".
Entrei para este mundo no ano em que a auto estrada Porto-Lisboa (sim, PORTO-Lisboa ficou completa), no ano em que Portugal se sagrou campeão do mundo de futebol sub-21 em Lisboa, no ano em que foi inaugurada a ponte S. joão, enfim um ano rico em acontecimento de relevância histórica.
Nessa altura ao entrarmos para a Faculdade ouvíamos falar de "maldades" que se faziam ao novos alunos... E eu entrei para uma Instituição de ensino superior designada por Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), que mais tarde iria adoptar como "segunda" (primeira) pátria, ENGENHARIA.
Chamar-lhe pátria é de facto o "sentimento" que me ocorre após ter efectuado uma "recruta" com uma forte tendência militarista (explicarei isso mais tarde), que me incutiu este sentir e forma de estar e viver chamada Praxe.
Fui iniciado e integrado neste mundo como CALOIRO, termo estranho, que conforme vivi, é o principiar do conhecimento, a base da pirâmde...
Aí aprendi, não, relembrei um conjunto de valores, atitudes e posturas que embora fossem inatas, estavam algo adormecidas:
- HONRA, LEALDADE, RESPEITO, CORAGEM, BENEVOLÊNCIA e RESPEITO PELO MAIS VELHOS.
Tal como disse este valores são inatos, de tal forma que são transversais a todas as culturas e encontram-se até no mundo animal!
A juntar a este valores, o cultivar dum forte espírito corporativo baseado numa hierarquia rígida com um conjunto de regras comportamentais baseadas em em tradições milenares (tal como este País a beira mar plantado). É aqui que entra a perpectiva militarista, com um forte componente de cavalaria e cavalheiresca.
A componente de cavalaria revê-se nos valores acima mencionados, bem como na prática do juramento de cavalaria que teve origem em S. Maurício, um legionário romano, pertencente à Legião de Tebas. Este Legionário deu origem ao Código de Cavalaria, após uma campanha punitiva na Gália Romana contra os barbaros, em que estes foram chacinados, ele ter verificado que se tratavam de cristãos. Após o massacre o imperador Maximiano ordenou que lhe deveriam fazer um juramento de lealdade enquanto divindade viva e ao mesmo tempo que se devia jurar ajudar à extirpação do cristianismo. Alarmados ante as ordens, cada um dos elementes da Legião Tebana recusou de maneira absoluta a tomar os juramentos. Isto enfureceu de tal modo Maximiano que este ordenou que toda a legião fosse dizimada, isto é, que se selecionasse um em cada dez homens, e estes fossem mortos à espada. Perante este cenário e mediante a recusa em obedecer Maximiano ordenou uma segunda dizimação que em nada alterou a crença dos legionários e deu origem ao juramento "juro servir primeiro ao meu Deus, depois ao meu Rei e por fim defender e proteger o oprimidos e os fracos" que passou a ser o pilar da cavalaria. Diz a lenda que S. Maurício possuia a lança que perfurou o peito de Cristo durante a crucificação (chamada lança do destino), que é visto por alguns como um acto de misericórdia e por outros como o culminar do "assassinio" de Cristo. Eu pessoalmente sou apologista do acto de misericórdia, visto que era practica comum na altura, quando alguém era crucificado, partirem as pernas com um martelo em madeira de modo a provocar a asfixia do condenado para terminar com a sua agonia.
Aqui podemos ver a estreita relação entre a Tradição Cavaleiresca e a Religião Cristã, que foi herdada pela Tradição Académica.